O cooperativismo de crédito brasileiro pode liderar a agenda ESG no sistema financeiro – com boas práticas de responsabilidade ambiental, social e de governança. Mas para que isso aconteça, é preciso reconhecer e potencializar as iniciativas que essas cooperativas já realizam e, em outros casos, promover novas ações.
Atenta a essa transformação, a Confebras acaba de lançar o curso Cooperativas de Crédito e ESG para apoiar suas associadas nessa jornada rumo a negócios mais sustentáveis e éticos. Desenvolvido na modalidade de Educação à Distância (EAD), o curso, apresentado oficialmente durante o 4º Fórum Integrativo Confebras, no dia 31 de agosto, em São Paulo, integra o ProsperaCoop — programa da Confebras que reúne conhecimento, formação e informação para engajar as cooperativas de crédito na agenda ESG.
A agenda da sustentabilidade, da responsabilidade social e da gestão ética é um dos caminhos para fortalecermos o cooperativismo e apostarmos em um futuro mais cooperativista. Só assim o nosso modelo de negócios continuará gerando prosperidade e resultados com propósito, olhando para os cooperados e as comunidades. Nosso papel é apoiar as cooperativas de crédito nessa caminhada, por isso desenvolvemos o novo curso sobre ESG”, explica o presidente da Confebras, Moacir Krambeck.
Para o líder cooperativista, investir em conhecimento é fundamental e certamente irá contribuir para potencializar essa pauta nas cooperativas. “Nossos princípios e valores têm total sintonia com a agenda ESG, mas nós precisamos aplicar isso de forma ainda mais intensa, olhando para o impacto das nossas ações nessas três frentes. Temos tudo para ser protagonistas e inspirar outros setores”, defende Krambeck.
VALORES COOP
Se para alguns segmentos a preocupação com o ESG é recente (veja quadro), para o cooperativismo o assunto não é novidade. O cuidado com o meio ambiente, com as pessoas e com a gestão ética estão na essência do modelo de negócio cooperativista, diretamente conectados ao DNA coop. E é preciso aproveitar essa vantagem competitiva no momento em que consumidores, mercado e instituições globais estão em busca de negócios cada vez mais sustentáveis em todos os aspectos.
A sigla ESG é recente, mas está superconectada com os valores e princípios cooperativistas. Na essência, na concepção do cooperativismo, esses valores já existiam. Agora é preciso avaliar o quanto estamos praticando de maneira proposital, intencional e programada temas de consciência ambiental, de equidade, de democracia. É preciso praticar e exercitar esses valores”, destaca a curadora dos conteúdos que fazem parte do jornada ProsperaCoop, incluindo o novo curso sobre a temática ESG, Claudia Leite.
Executiva com 25 anos de experiência em Estratégia, Comunicação Corporativa, Reputação, Sustentabilidade e ESG, Claudia destaca que o caminho para implementar o ESG no cooperativismo de crédito passa necessariamente pela intercooperação, um dos princípios do cooperativismo e agenda prioritária da Confebras.
“É a intercooperação que vai fazer com que realmente o cooperativismo se desenvolva, com que as boas práticas sejam compartilhadas. Não é à toa que o cooperativismo de crédito cresceu tanto nos últimos nos últimos anos e têm potencial para alcançar ótimos resultados em todas as áreas”, avalia a especialista.
Para conectar as informações sobre ESG ao dia a dia das cooperativas de crédito, a especialista em sustentabilidade e a equipe da Confebras relacionaram as três letras aos valores do cooperativismo:
- Ajuda mútua e responsabilidade;
- Democracia;
- Igualdade;
- Equidade;
- Solidariedade;
- Honestidade;
- Transparência e
- Responsabilidade Social.
A partir dessa conexão, foram desenhadas ações práticas para desenvolver os pilares em todas as áreas de atuação das coops.
JORNADA ESG
O primeiro passo para a implementação do ESG nas cooperativas de crédito, segundo Claudia Leite, é o diagnóstico. “É bem possível que as cooperativas já desenvolvam muitas ações sustentáveis, sem saber que elas têm tudo a ver com a pauta ESG”, avalia a especialista.
Recentemente, o Sistema OCB realizou um amplo levantamento para mapear iniciativas ESG nas cooperativas brasileiras, baseado em uma série de normas, padrões, acordos, tratados e convenções reconhecidas globalmente. O Diagnóstico ESG revelou que a aderência das coops brasileiras ao ESG chega a 51% em um conjunto de quesitos que inclui cumprimento de leis e normas, conformidade social e ambiental e práticas trabalhistas, entre outros.
Segundo Claudia Leite, após mapear ações e demandas em temas relacionados a esses três pilares, é hora de decidir quais são as prioridades e criar metas, planos de ação e indicadores para cumpri-las.
Se o diagnóstico foi bem feito, essa parte vai ficar muito mais fácil. Nenhuma cooperativa precisa ter 50 ações de ESG. O ideal é escolher três aspectos importantes para a organização e realizar um planejamento estratégico em torno delas. Por exemplo, estamos usando o poder creditício para promover o bem? Com linhas de financiamento que são conectadas com sustentabilidade, para desenvolver a educação, para promover a inclusão, a diversidade?”, pondera.
O terceiro passo é monitorar o progresso das ações ESG e dar visibilidade aos resultados de maneira transparente e idônea. “Precisamos aprender a comunicar o que estamos fazendo. E não devemos fazer isso apenas quando tudo estiver perfeito. Comunicar também é educar as pessoas a entenderem que o ESG é uma jornada. Existem projetos que a cooperativa já está fazendo e outras ações que ainda precisam ser feitas”, sugere Claudia.
PROTAGONISMO
A adoção de boas práticas de responsabilidade ambiental, social e de governança já são um diferencial competitivo e devem se tornar o novo normal dos negócios do futuro. Justamente por isso, é tão importante acelerar a divulgação do que as cooperativas de crédito já têm feito em relação ao ESG.
Quem já entendeu e está acelerando essa agenda, já conseguiu criar valor para si e, com isso, vai se diferenciar e atrair mais clientes. Hoje é, sim, um diferencial, mas cada vez mais é uma condição de competir, principalmente em setores muito regulados, como o financeiro, em que o Banco Central tem uma série de normativas para regulamentar todas essas questões”, acrescenta Claudia Leite.
Ainda segundo a consultora, o ESG é um caminho sem volta e as organizações que não colocarem essa agenda em prática assumem o risco de deixar seus negócios de fora da nova economia.
“Na década de 1980, todo mundo falava de qualidade e hoje o conceito de qualidade está inserido dentro das organizações com olhar transversal. É como a gente espera que evolua a pauta do ESG. Porque se trata de uma nova maneira de fazer negócios, de gerir os negócios com responsabilidade. A sociedade evoluiu, as pessoas estão procurando entender os impactos do que fazemos. Por isso o ESG está relacionado à longevidade, à perenidade das organizações.”
SERVIÇO
O curso Cooperativas de Crédito e ESG foi lançado durante o 4º Fórum Integrativo Confebras como uma das ferramentas para responder a desafios das cooperativas de crédito independentes e fortalecer o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo por meio da intercooperação. As aulas estão disponíveis na nova plataforma de EAD da Confebras, de forma totalmente gratuita para as cooperativas filiadas. Um conteúdo rico e completo, que faz parte da jornada ProsperaCoop, composta também por workshops, lives, cartilha e outros materiais para leitura. Confira tudo aqui.
Entenda o conceito de ESG
Sigla em inglês para Environmental, Social and Governance, que significam meio ambiente, social e governança, o termo ESG foi criado em 2004 pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan. Na ocasião, ele desafiou líderes de grandes instituições financeiras a integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais. Ao longo de quase 20 anos, a sigla ganhou destaque no mundo corporativo e se converteu em um diferencial competitivo para instituições de todos os setores.