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“É importante sair zona de conforto e caminhar rumo à inovação”, diz Meiry Kamia em entrevista

Quando subir ao palco do 2º Fórum Integrativo Confebras, Meiry Kamia levará um pouco de tudo aquilo que já conseguiu acumular no currículo: a formação em Psicologia, o mestrado em Administração de Empresas, a experiência em gestão de pessoas, com habilidade em ilusionismos, mágicas e técnicas teatrais, que herdou de família.

Essa pluralidade de conhecimentos é sua aposta como o grande diferencial de si mesma. Para ela, as experiências multissensoriais que tenta oferecer ao público levam à retenção da informação e do conteúdo e estimulam a mudança de comportamento de maneira mais rápida e prática.

No encerramento do primeiro dia de programação do 2º Fórum Integrativo Confebras, Meiry irá abordar os impactos da inovação das tecnologias emergentes na governança Cooperativista de Crédito. Veja o que ela diz na entrevista concedida à Confebras.

Confebras – A tecnologia traz novidades e rupturas a todo o momento e isso afeta a todos. Quais são os efeitos desse cenário de tantas mudanças?

Meiry Kamia – A internet e a globalização provocaram uma revolução na informação que trouxe mudanças em todos os níveis, não só nas empresas, mas também nas relações humanas, amorosas e de família. Ninguém escapou. Isso muda tão rápido que as pessoas demoram para acompanhar o que está acontecendo e demoram para conseguir mudar o comportamento, as crenças e a encarar as próprias resistências. Se antes tínhamos um modelo mais certo do que poderia ser a felicidade, hoje o jovem está com outra cabeça, as relações de trabalho estão diferentes e a própria sobrevivência do ser humano está mudando. Não dá mais para fazer tudo como antes. Há quem diga que a tecnologia trouxe problemas, trouxe suicídio, trouxe ansiedade. Nós nunca tivemos um cenário de doenças mentais como agora, por exemplo. A previsão da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que, até 2020, a depressão seja a segunda maior causa de afastamento no trabalho. Nem chegamos em 2020 ainda e já estamos alcançando o primeiro lugar. A cidade de São Paulo, por exemplo, é campeã mundial em transtornos de estresse. Tudo isso vem de uma cultura em que as pessoas estão muito preocupadas e ocupadas com o fato de não atingir prazos, de não ter dinheiro para pagar as contas, de sentir medo da violência a todo o momento. Essa é a nossa situação mental hoje e a forma como nós estamos reagindo à tecnologia. E essas doenças mostram que, realmente, não estamos conseguindo nos adaptar a ela.

Confebras – Como, então, lidar com as mudanças?

Meiry Kamia – Esse cenário passa uma impressão aparentemente negativa da tecnologia. Aquele que tem muito medo de assumir quem é e de se empoderar dos próprios talentos sempre vai sofrer. Mas, na minha opinião, isso não passa de uma falta de compreensão de que as coisas mudaram e de que a inovação não pode acontecer só nas coisas materiais. Ela também precisa descer para o nível tecnológico e comportamental. A inovação requer adaptação para que possamos sobreviver. A resposta para isso é ter uma postura diferente. A tecnologia nos convida, por meio da inovação, a pensar e agir de uma forma diferente. Essa mudança de paradigma acontece em todos os níveis para que a gente deixe de sofrer e seja mais criativo. Temos que sair do modelo da competição que prevaleceu até hoje e entrar no caminho da cooperação. Sair da sensação de devastação para ir ao caminho da sustentabilidade. Sair do egoísmo e passar a trabalhar em equipe. Sair da zona de conforto e caminhar rumo à inovação. Então, é um convite para que o ser humano assuma seu diferencial e passe a usar o seu potencial criativo, que nos diferencia das máquinas. Para tanto, é preciso deixar o orgulho de lado, trabalhar mais a humildade e olhar como a gente cresce em termos de valores e virtudes humanas. A tecnologia e as mudanças diárias não passam de um desafio que a vida está nos dando. A cultura da inovação traz isso.

Confebras – Este contexto vem exigindo uma nova postura das Cooperativas de Crédito e de seus profissionais, o que praticamente resulta no surgimento de uma nova cultura empresarial. Mas como criar essa cultura de inovação dentro das empresas?

Meiry Kamia – Esse cenário – o que propõe a inovação – é muito positivo para o ser humano. Gosto muito da palavra empreendedorismo não só para quem está fora das empresas, mas também para quem está dentro. Isso se chama endoempreendedorismo: quando você se comporta e pensa como o dono da empresa. Por isso, é importante deixar o papel passivo de lado e passar a ter uma visão mais empreendedora, independente da sua posição. Então, se uma empresa quer seguir para este caminho, precisa incentivar esse tipo de comportamento. Como? Ela pode trabalhar com premiações para quem traz novas ideias, por exemplo, pois isso é uma maneira de mostrar que os colaboradores são valorizados durante o processo. Nesse sentido, faz toda a diferença evitar aqueles discursos prontos de inovação que costumam ser ditos, mas não são praticados. E isso acontece muito quando, por exemplo, alguém vem com uma ideia diferente e a empresa barra. Por isso, é muito importante que todos estejam muito conscientes sobre quais valores e quais práticas devem ser desenvolvidas na organização. E o incentivo precisa vir, especialmente, dos líderes.

Confebras – As cooperativas de crédito estão alicerçadas em princípios centenários que sempre as diferenciaram de outros segmentos. A intercooperação é um exemplo disso. Dentro desse cenário, como pensar fora da caixa e ampliar a visão de mercado?

Meiry Kamia – O mercado está começando a se desvincular do paradigma da competição e começando a voltar os olhos para a intercooperação, coisa que as cooperativas já pensam há muito tempo. Mas o fato é que ela precisa acontecer na prática, não só no discurso. É aí que precisamos refletir: isso está mesmo sendo feito? Trabalhar com a intercooperação é estar consciente de que, sozinhos, não se faz nada e de que o sucesso não virá sem olhar para o outro. Às vezes, isso é difícil no mundo corporativo. Mas é preciso se voltar a uma mudança de postura e a um novo jeito de enxergar as coisas, especialmente porque a exigência está vindo de baixo, da própria sociedade. Antigamente, se você machucasse um animal, ninguém falava nada, mas, hoje, as pessoas te massacram. Antigamente, você fazia bullying e era normal, mas, hoje, estamos incomodados com a violência contra a mulher. A política é outro exemplo: as exigências sociais estão cada vez maiores.
Então, não dá mais para pensar em empresas que geram lucro somente para o dono e que detonam o meio ambiente e a qualidade de vida das pessoas para alcançar isso. Sair da caixa é deixar de lado a questão financeira, a competitiva, o individualismo e o egocentrismo para trabalhar realmente os valores morais mais elevados. Se analisar bem, são as relações pessoais – sejam elas quais forem – que sempre pregaram a sobrevivência de uma empresa. A justiça, a solidariedade, a ética, o respeito provêm dali. É isso que faz a diferença hoje. Só o conhecimento técnico não é mais suficiente para alcançar o sucesso e a sobrevivência empresarial. Não se faz isso sem paciência para negociar, sem tolerância para lidar com pontos de vista diferentes e sem inteligência emocional para conduzir toda a equipe ao mesmo ponto. Hoje, mais do que tudo, é preciso desenvolver os aspectos emocionais, psicológicos e espirituais e trazê-los para as organizações. É isso que irá garantir a sobrevivência do negócio a longo prazo.

Confebras – Como identificar hábitos que estão atrasando a evolução das Cooperativas de Crédito?

Meiry Kamia – Um hábito sempre virá de uma crença. A gente costuma ter muito apego àquilo que acredita, fazendo surgir o hábito: isso faz com que as crenças entrem numa rotina mental e se transformem em zona de conforto, que, claro, não dá trabalho algum. Este apego é o grande inimigo nesse contexto de mudanças. É importante quebrar este hábito e se abrir para o novo, não ser tão reativo com as novidades. O otimista procura sempre encontrar oportunidades em cada problema, enquanto o pessimista enxerga problemas em cada oportunidade. Costumo sempre citar essa frase, pois, dependendo da forma como você encara uma situação, vai ou não enxergar as oportunidades. Da mesma forma que acontece com tantas outras situações: uma faca, por exemplo, pode ser usada para uma algo positivo e também como uma arma. O mesmo acontece com a tecnologia: tem gente que acha que ela é a vilã do desemprego, é a culpada de tudo. Quem olha nesse sentido é o pessimista. O otimista pensa: “estou com mais tempo livre, vou ter horários mais flexíveis”. Então, vai muito da maneira como se enxerga os problemas e a realidade.

Confebras – Como acompanhar as mudanças sem ficar para trás?

Meiry Kamia – O primeiro passo é a gente entender que o segredo do sucesso está no ser humano e só nele. A questão é assumir esse entendimento. Se analisarmos bem, se refletirmos, os nossos grandes problemas não estão na tecnologia e, sim, na própria conduta humana. Competir com o outro, por exemplo, é a razão dos grandes males da sociedade. As redes sociais ajudaram a evidenciar muito isso: a gente olha a vida de todo mundo, mas esquece de olhar para a nossa, para as nossas pequenas conquistas e para os fatores negativos que precisam ser trabalhados. Esse tipo de atitude causa a impressão de que há sempre alguém mais evoluído que a gente, o que faz com que nos percamos da meta principal. O mesmo acontece com o ambiente corporativo: se a organização olhar muito para o lado poderá ficar suscetível e perder sua força interna. O importante, neste caso, é olhar para o que se tem de bom e para os próprios diferenciais e fortalecer esses valores e a confiança. Quando a organização se compara com as concorrentes, não consegue enxergar os pontos positivos e começa a tomar decisões baseadas no mercado e não naquilo que tem condições de fazer. Com o medo de perder as oportunidades, às vezes, se tomam decisões precipitadas que acabam prejudicando a sustentabilidade da organização. Claro que não devemos nos fechar numa bolha: é importante olhar para o mercado e ter um parâmetro, mas não se fixar só nele. Este é o convite que a necessidade da inovação está nos propondo: parar de colocar a culpa nas tecnologias, no mercado, nas ferramentas e assumir a nossa responsabilidade em mudar este padrão. Não podemos cair na armadilha da comparação.

Meiry Kamia e outros palestrantes convidam você a participar desse momento de disruptura de pensamento. Não deixe para a última hora. As vagas são limitadas!

Confira a programação completa em: www.confebras.coop.br/fic/

 

Mais informações: (61) 3323-2335 | confebras@192.168.10.13

 

Data da publicação: 18/09/2019

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